10.10.16

Táxi

Esta história dos taxistas deixa-me enjoado, para não dizer enojado.
É verdade que nem todos os taxistas são maus, ladrões, mânfios, fumadores e salazaristas. Mas também é verdade que se fazem representar por um tipo – recuso-me a apelidá-lo de algo melhor – que fica no limiar do apelo à violência. Tem sido muito triste ver o discurso que faz a apologia do monopólio, da resistência à mudança e do insulto.

É verdade que o mercado do táxi é dos mais regulados no país. Um taxista precisa de licença – cujo número é limitado pelas câmaras – de horas de formação, de seguros. Concordo que alguma coisa deva ser feita para aliviar o fardo de quem também precisa de ganhar o seu honestamente, mas o discurso precisa de ser justo e cuidado, sob pena de alienar quem se serve do serviço.
No meio disto tudo é lamentável que não tenha havido um discurso que mostrasse vontade de aprender, vontade de concertar exigências. No fundo, um discurso que fosse centrado no cliente em vez de ser centrado no umbigo de alguns.
E explico porquê: quando há monopólios, há interesses. E neste caso há-os e muitos. Por exemplo, as poucas licenças que existem podem ser vendidas por milhares e milhares de euros – isto está documentado – quando uma licença nova em Lisboa nem quinhentos euros custa. E agora os taxistas não me venham cá com as cenas dos seguros, porque os outros operadores também os terão que pagar (podem não ser exactamente os mesmos, mas então exijam ao governo que o sejam ao invés de desancarem à porrada a quem conduz um uber – aconteceu hoje mesmo na manisfestação). E também é verdade que as horas de formação exijidas a uns não sejam as mesmas que os outros. Mas, claramente, há quem precise mais que outros. Note-se bem nas queixas.
Se a coisa for centrada na qualidade de serviço, os clientes não faltarão. É nisso que as novas operadores muito apostam.
E não tenham ideias peregrinas de ter uma bandeirada mínima de seis euros em determinados momentos do ano. Até porque já têm tarifas nocturnas, taxa para bagagem ou para chamada

E duas notas curiosas:
- Os taxistas ficaram ofendidos por terem sido insultados à beira do aeroporto e a polícia não ter intervindo. Preciso de recordar que um certo secretário de estado e sua família têm andado escoltados tais os níveis de insultos e ameaças?
- O epicentro da manisfestção é o aeroporto. Um dos pontos negros do serviço de táxi. Que eu bem me lembro da celeuma que um certo placard com os preços médios levantou na altura. E ainda me espanta que seja necessária polícia para organizar os táxis naquela praça, porque claramente é preciso alguma autoridade externa.


Acho óptimo que o governo – este ou outro qualquer – tenha tomado acção e legislado esta situação. É preciso resolvê-la e é preciso aplacar os monopólios e a violência que por aí anda.

26.6.16

Considerations on Brexit

So much has been written and shared about Brexit that I was starting to feel left behind. So I decided to write some thoughts down.

1. I was surprised at the result. Honestly, I did not think Out with win. The matter of fact is, though, it won, but very much marginally. And I find it astonishing the consistent results in Scotland and Northern Ireland as much as the consistent results in poorer areas of England that voted against the hand that feeds them.

2. This looks like a novel. Cameron wanting to secure his party back in the day, decided to initiate this referendum conundrum and he lost control over it. I remember him being against UK remaining in the EU until his friends from the City advising him otherwise. Foreseeing the capitals fleeing and with them the jobs and investments.  
Now, it seems, he has come to the end of the line.
Unfortunately, he has started a time of political uncertainty. Not only in the UK, as the world that we live in now implies much deeper consequences.

3. Xenophobia is on the rise. Which is something I don't like to dramatize - as sometimes it seems that everything is some sort of discrimination - but it is happening, because ignorants feel validated and empowered by the vote of the majority. It was thrown out from the mouth of Nigel Farage who has been caught in a blunt lie, when he could not ensure that the money going to the EU per day will go to NHS. I do ask him: where the hell is it going then?
Anyway, there have been reports of a rise on xenophobic comments both online and on the streets against people that come to the UK to work and therefore contribute to the greater good. Through taxes, you know. People that often pick up jobs that otherwise would go undone. Or start investments. From Europe or beyond.

4. The results already saw the pound crashing and the announcements of jobs being moved out of London. HSBC, Goldman Sachs amongst others have made such accouncements.
It is true that having a special relationship with the EU can secure jobs and capital in the city, but the big companies are ready to move to Paris, Frankfurt or Amsterdam because they do understand the effects of the Brexit and do understand the benefit of being in a fully integrated single market such as the EU.

5. I was surprised at the immediate German response to the result: a meeting of the founding states of the EEC. Something that does not exist and which core we have moved on - which is also the cause of the situation we are in now, I'd say.
I find preposterous that Europe is not learning from this. Instead of having a broad conversation with everyone - which is to happen anyway - a chit-chat of a VIP club that does not exist took place. 

6. I am still surprised at this second referendum initiative. Not for the initiative itself - as it is always good to see citizens engaged - but because we cannot just have referenda all the time when we do not agree with the results of the previous voting. Imagine if that applied to general elections as well. What can be done, in my humble opinion, is to start an initiative for a new referendum once conditions have changed. Nicola Sturgeon already hinted at this, concerning the independence of Scotland - given the consistency of results.

Eventually, I am not sure if the relationship of the United Kingdom with the European Union will change that much, to be honest - as they had guaranteed many exceptions as is. There will be changes for foreigners living there, for sure, and more so for Europeans wanting to move to the UK. But vice-versa as well, lest we forget the pensioners in Spain, Portugal or Cyprus. 
Economically, financially and in terms of people movement, the UK will be like Norway or Switzerland: being part of the European Economic Area - so, no tariffs, no borders. And no say in the decisions the EU make.

We also need to consider something else, despite the big question mark now on the political future of the UK: will Brexit really happen? The results of referenda in the UK are not binding. And the tendency in the Houses of Parliament is very much pro-Europe. 

And will the UK fall apart? That is a very good question, given the sensitiveness of the different nations within it. I would say Scotland might try something and might get it, but Northern Ireland would have a harder time, given its history and its divisions. Which can surface again, if things become really nasty.
Anyway, if Scotland goes for independence and asks to join the EU, Spain will likely vetoe it. As they do not want to give any false hopes to the Basque Country or, most importantly, to Catalunya.

I also wonder, if Brexit does move on, how will the government of the UK address the concerns of the poorer areas of its territory? I mean, with the devaluation of the currency and the exit of some big companies (possibly leading to more unemployment and, for sure, a lower tax collection), where will the money come from to be given to those areas needing help from the government? And how will it cope with the rise of prices that will necessarily happen?

Lastly, what I would like to see from the other side of the fence - the EU - would be a concerted reaction to this, towards an improvement of its bureaucracy, of its crushing of the smaller and poorer countries, of its distance from its citizens. We cannot go on living like this Brexit vote did not just happen. It's not a "you love me as I am or you leave me". It's not a German club. It's not a financial club.
If we do not change the EU for better, more radicalization will spring up. Look at Le Pen, Wilders. Or Hungary or the last presidential elections in Austria.

One thing I know for sure: I should be in  London now and not two weeks ago. Shopping would be much cheaper.

3.9.15

Dos refugiados

Vi aquela fotografia de Aylan, a criança que deu à costa europeia já morta. Como tenho visto imagens de gente, igual a mim, mas com caras desesperadas. Tenho lido histórias de gente que foge da guerra, da fome, da perseguição. Gente que traz a avó de cadeira de rodas do Afeganistão e até a carrega ao colo quando é preciso.
E não posso ficar indiferente. E não fico.

Aquela gente é parte deste mundo e merece as mesmas oportunidades que eu. Seja na terra onde nasceram ou seja aqui ou ali. A mim pouco me interessa. Mas interessa-me a forma como têm sido, em geral, tratados.

Começa logo pelo termo “migrantes”. Mas quem é que decidiu aplicá-lo a uma realidade destas? Não é um migrante alguém que decide partir em busca de uma vida melhor e ponto final? Mas não é um refugiado aquele que é forçado a saír do lugar a que sente até pertencer? Essa é a diferença e é nesta última categoria que esta gente se enquadra ou, quando muito, grande parte desta gente se enquadra, disso não tenho dúvidas.

O que vejo acontecer no acolhimento a esta gente é também uma grande confusão. O tratamento a que são submetidos pelo governo fascista húngaro em Budapeste é vergonhoso. A marcação com números nas mãos feita pelas autoridades checas é uma negra lembrança de outros tempos na Europa que têm que ser evitados nem que seja pelo que simbolizam. A vergonha que é Calais com a demissão das responsabilidades francesas é um atentado à dignidade dos seres humanos sobretudo na terra da Revolução.

A União Europeia sempre me pareceu ser fraca na política externa. Não que para isso precise de intervir feita um Golias como os Estados Unidos, mas em termos de ser clara nos seus propósitos, de concretizar o melhor para o mundo e – não sejamos ingénuos – para si, a coisa nunca correu por aí além (tirando um ou outro exemplo, talvez no Médio Oriente). E a forma como está a a lidar com este afluxo de gente a chegar às suas costas tem sido absolutamente atroz. A Espanha e a Itália têm alertado para isto há anos. E nada. A Grécia urra agora. A verdade é que nada acontece enquanto os burocratas trocam ideias e decidem que uns vão para aqui e outros para ali.

E depois precisamos não esquecer que países como a Macedónia ou a Sérvia não pertecem à União Europeia e que por isso as regras são um nadinha diferentes.

Posto isto há questões que se levantam. Há desde logo os senhores da extrema-direita com as suas manias de que os refugiados vêm para aqui tomar conta disto e tapar as gajas todas. Não é verdade. Mas a verdade é que, quer queiramos quer não, temos que viver com a realidade de que esta gente existe e que tem uma opinião e uma opinião sobretudo populista. E por isso, perigosa.
Depois temos os medrosos que acham que temos que obrigar esta gente que aqui chega a viver como nós. E eu relembro-os que não, não temos. A cultura europeia baseia-se na democracia sobretudo laica, na diversidade. Outros governos não são assim. Não são necessariamente as culturas. Nem se cortam mãos em todos os países muçulmanos, por exemplo. Mas também é preciso não esquecer que ainda há gente na Europa que se mostra contra a entrada da Turquia na União por ser maioritariamente muçulmana. Como se a União – ou a Europa! – fosse um clube cristão. Giro e um todo-nada irónico, não é?

Eu sou da opinião que haja alguma adaptação. E é inevitável que haja. Não na primeira geração que chegue. Talvez não na segunda. Mas depois. Quando as crianças estiverem na escola, mais integradas. Quando as pessoas trabalharem junto dos outros. Quando todos aprendermos juntos uns dos outros. E virmos que temos todos a ganhar, na verdade. É-me indiferente se uma mulher anda tapada – desde que possa escolher fazê-lo – mas não me é indiferente ver gente ser perseguida, maltratada, morta só porque quer viver com dignidade.
Mais: quererá esta gente de facto ficar connosco para sempre? Não quererão regressar aos seus assim que sentirem estar em paz até para poderem ajudar na resconstrução do que é seu?

E também gosto daquele argumento maravilhoso: a eles dão-lhes tudo e a mim não me dão nada. E eu digo: olha, só por dizeres uma coisa dessas, já nem mereces! Mas reconsidero, porque o assunto é sério e afinal digo que estas pessoas passam por uma experiência inenarrável para chegarem até um porto seguro. E o mínimo que podemos fazer é dar-lhes algum conforto. Que talvez nunca venham a considerar a sua casa.

E custa-me ver que a situação de fundo continua esquecida: o que causa o desespero desta gente toda. A miséria de tanto sítio em África. As atrocidades cometidas na Eritreia. A desintegração da Líbia. A falta de entendimento do Ocidente de que nem todo o mundo está preparado para a democracia ao seu estilo que resulta num ISIS na Síria e no Iraque. Nos problemas ainda extremistas do Afeganistão.
 
Por fim, também temos que ser pragmáticos e assegurar que, ao mesmo tempo que damos apoio a todos os que necessitam, asseguramos que não somos trespassados por degenerados vindos dos confins da Síria, de Kandahar ou, não nos iludamos, da Arábia Saudita. Porque a ameaça é real.

8.7.15

A Grécia

Eu deixei de ver novelas há algum tempo. Mas de há algum tempo para cá, e embora muita gente me fale do Mar Salgado, eu prefiro uma novela onde, me parece, só há maus: a Grécia.
Todos os dias há uma coisa nova. É agora que se casam. Agora já não é. É agora que andam à estalada. Agora já não é. É agora que se encontram à meia-noite. Agora já não é.

Mas querem saber: cansei. Já não dá. 

Eu já havia dito que a vitória do Syriza não seria sinónimo de nada em particular. Que teríamos de ver. Mas era sinónimo indisfarçável do descontentamento quanto ao rumo economicista e tecnocrata da União Europeia. A vitória do "oxi" no referendo veio reforçar isto. Mas, como costumo dizer, temos sempre que lidar com a realidade que temos e não com aquela que queríamos ter. 

Mas a verdade é que um país não pode continuar a viver feito um doidivanas às custas de não se sabe quem. Não é justo, nem com base no princípio da solidariedade da Europa. Esta só funciona quando todos funcionamos bem.

Inicialmente, até conseguia perceber o Syriza. Não porque era simplesmente contra-corrente, mas porque entendia - e ainda entendo - que é preciso mais tempo do que aquilo que é exigido para pôr a economia a funcionar. É preciso um desafogo maior para que a economia se mexa e o povão não seja tão lixado como é costume. O que é tão indiferente aos tecnocratas doutos em Excel no FMI e no raio que os parta.

Mas nos últimos tempos tenho mudado - e muito! -  de opinião. Muito embora o Tsipras tenha dado um golpe de mestre despachando o Varoufakis - eliminando assim um grande obstáculo a qualquer negociação com os fofinhos do outro lado da barricada - fez um referendo, quando a mim, um nada extemporâneo - mas ainda assim uma consulta popular - e tem protelado, protelado, protelado. Usado de propaganda. E pouco mais.

E no meio disto, ainda vem o FMI dizer que a dívida grega, tal como já está, não é gerível.

O discurso de um senhor de quem nunca havia ouvido falar - e peço desculpa se ele é uma celebridade no meio - ilustra bem onde é que estamos. Mas também ilustra bem onde é que devíamos ter estado sempre: num fórum político, de debate de ideias e de expressos mandatos pelo povo. 

E retenham a palavra "povo". Não é o grego. É o europeu. Que me parece estar a ser esquecido no meio desta guerra fraticida - não se esqueçam da alusão que a rainha de Inglaterra fez há poucos dias à origem da nossa União.



I got angry this morning at Mr Tsipras, because we need to see concrete proposals coming from him. We can only avoid a #Grexit if he takes his responsibility. Watch my speech again here
Posted by Guy Verhofstadt on Wednesday, 8 July 2015

Não creio - e não quero crer - que a Grécia saia do Euro. Pelos custos que isso teria para a Europa e por um certo telefonema que o Obama fez à Merkel. E espero que a instituição aprenda com isto. Nem que seja para nos unirmos mais e melhor. 

A União Europeia é um óptimo projecto, mas talvez precise de ser revisto. Para ver para onde pode evoluir, como pode evoluir. O que dele queremos.

E não se esqueçam do referendo no Reino Unido.

26.6.15

Pobre gato!

Já com as touradas é o mesmo. Dizem que é "tradição". Como se esse termo justificasse tudo. Como se os tempos não mudassem e as vontades não andassem para a frente. Se assim não fosse, ó gentes de Vila Flôr e, já agora, Barrancos, ainda havia cristãos mortos no Coliseu de Roma para gáudio dos romanos, senhoras de espartilho e saias compridas a passear-se no Chiado, espectáculos no ocidente com exóticas mulheres de África.

Não se justifica e espero que  vão todos presos.

20.5.15

Perdão!?

Então o país está de pantanas. O país tem os cofres cheios mas afinal não tem e é preciso troikar mais o pessoal. O país continua na senda da austeridade. E o governo dá um perdão fiscal de oitenta e cinco milhões ao Novo Banco?!

Isto pode ser legal, sim. Mas é imoral. Porque para se alimentar um sistema que se alambuza à pala dos outros, tira-se aos velhos, aos doentes, à classe média. E isso é, repito, imoral. 

Claro que este governo se escuda na legalidade da decisão - ainda que reconhecidamente extemporânea e nobremente preocupada com o futuro - mas pouco lhe importa que, dada a conjuntura que tanto apregoa, se dê dinheiro a bancos e o povão ande de mão estendida.

Quem começa a precisar de perdão são os senhores. E não é fiscal. Já é divino.

30.3.15

Eles são mais é bolos

É que só pode. Que a notícia de hoje gira à volta do Fisco a penhorar bolos a um restaurante. Quatro deles.

Não sei se foram ducheses, pirâmides ou pastéis de nata, mas foram quatro. Cada um a 30 cêntimos - o que deve ser o preço de custo, que eu não encontro bolos a esse preço!

Isto até dá para rir, sim.

É verdade que houve alterações na lei e que o Fisco tem conhecimento dos produtos em movimento. Mas fará sentido penhorar quatro míseros bolos?! Se ainda penhorassem todos os bolos... Agora cá quatro!

Não há dúvidas que se uma dívida existe, tem que ser paga. Porque eu não quero andar a pagar os impostos dos outros. Mas também é verdade que as autoridades têm que se dar ao respeito, evitar serem also de chacota pelo povão. Mas assim não vão lá.

Eu, se um dia não tiver consciência que tenho que cumprir com as minhas obrigações de cidadão, vou fazer um choradinho aos senhores do Fisco para não me penhorarem o Cerelac, a pasta de dentes e o creme para a cara.